Economia solidária: a pessoa em primeiro lugar!
As pessoas são mais importantes do que a economia, afirmou o Papa Francisco ao orientar a todos os países para que não poupassem dinheiro nem esforços na luta pela vida e contra a pandemia da COVID-19. "(Precisamos) curar as pessoas e não poupar (dinheiro). (Temos de) curar as pessoas, elas são mais importantes do que a economia", disse. “Nós, pessoas, somos templos do Espírito Santo, a economia não", afirmou Francisco.
O Santo Padre lembrou assim, a todos e a todas – independentemente de religiões – que a vida, sob todos os aspectos, é muito maior do que o dinheiro. Inspirado no pobrezinho de Assis – que lhe empresta o nome – o Papa (que é argentino e conhece muito bem a realidade da América Latina) nos convida a não permitir que a ordem da existência humana seja subvertida pelos ditames do capital e pela visão cruel e desumana do lucro e da mais-valia.
Por isso, é preciso reconhecer que, ao contrário do que prometiam os gurus do neoliberalismo bolsonarista, a economia do país andou para trás e segue ladeira abaixo. É nítido que o poder de compra do brasileiro despencou nos últimos dois anos ante o aumento frenético de preços e da constante alta do dólar. A gasolina, a carne e os produtos da cesta básica atingiram patamares elevadíssimos e que há décadas não se via no país. No mesmo passo do atraso, elevam-se os índices de desemprego e subemprego. O Brasil agoniza.
Em um país desgovernado e assolado pela pandemia – a qual o executivo federal demora a reconhecer e pouco ou nada faz de efetivo para contê-la –, fogem de nossa pátria empresas de todos os tipos, levando embora milhares de empregos. Pelo visto, não bastaram as cruéis reformas trabalhista, da previdência, administrativa e a PEC do mal – o “mercado” queria e quer mais. E o que quer o mercado?
O “mercado” quer um governo assertivo e competente, que conduza o país em meio a uma das mais graves crises sanitárias da história. Quer um governo que saiba negociar, que tenha e transmita credibilidade, que preze pelo que afirma e honre suas propostas. Porém, nada disso o mercado vem encontrado no Brasil. Paradoxo dos maiores, temos um governo neoliberal – conduzido por um economista que se diz pertencente à famosa “Escola de Chicago” – que vê agora multinacionais como a Ford, a Mercedes-Benz, a Audi e a Land Rover – só para citar da indústria automobilística – migrando para países com governos “de esquerda”, como a Argentina e o México.
Diante do declínio do capitalismo de estado – que é o que acontece agora, no Brasil, sob a égide neoliberal – cumpre recordarmos o que nos ensina a economia a “economia de Francisco”. Assim, é fundamental, neste momento de crise geral nacional, sabermos que – como nos ensina o Papa – a economia é menor do que a vida. Por isso, precisamos repensar a ordem das coisas e restabelecermos uma nova visão de estado – menos ancorada na dependência do “mercado” e mais alicerçada naquilo que o país poder gerar (com indústrias próprias, com trabalhadores bem pagos e capacitados).
É hora de reassumirmos as rédeas da nação, sob pena de chorarmos por um número ainda maior de mortos pela COVID, por mais empresas fechadas e mais desempregados. Precisamos voltar a ser um país forte, respeitado e referência mundial. Precisamos de um governo de verdade e que cuide dos brasileiros e brasileiras. Só assim evitaremos o mal maior que, como se não bastasse o nosso presente, já se anuncia.
Rai de Almeida é advogada e vereadora.