A matemática turva das águas do Piracicaba

Foi aprovado em sessão camarária do último dia 10 de maio requerimento (de número 310/2025, de autoria do vereador Zezinho Pereira) que solicita a realização de uma audiência pública sobre o Rio Piracicaba para se discutir estratégias para sua proteção. Diante desse requerimento, a primeira recordação que me veio à mente foi a do desastre ambiental de julho de 2024 – que causou a mortandade de 36 toneladas de peixes. Além do triste cenário dos peixes mortos boiando ao longo de toda a extensão do Piracicaba, perdurou também por dias o mau cheiro – calando em nossas narinas a desgraça dessa tragédia. De lá para cá, no entanto, poucas medidas foram aplicadas. A empresa responsável foi identifica e “simbolicamente” multada pelo ocorrido – mas as perdas, nesse caso, estão para além de uma compensação material. Fatos que, explicitamente, já justificam a necessidade dessa audiência pública.
Nosso rio é muito mais do que um cartão turístico. O Rio Piracicaba é o coração desta cidade! Afinal, a história de fundação e crescimento de Piracicaba está ligada diretamente ao rio – sendo ele um símbolo da rica história cultural do município e grande patrimônio imaterial e natural não só de Piracicaba, mas para todas as demais cidades de sua bacia hidrográfica. Por isso, é preciso que a sociedade civil esteja presente e seja ouvida nessa audiência, sendo fundamental que ela questione o poder público sobre o Piracicaba e reflita sobre as explanações e propostas que devem ser trazidas por a audiência.
Da mesma forma, importa também chamar a atenção para o fato de que a população deve estar atenta a partir de agora para outra questão envolvendo as águas do Piracicaba, a saber: a renovação da outorga do Sistema Cantareira – prevista para 2027, mas que inicia suas discussões agora em 2025. A primeira reunião publicada pelo comitê PCJ está marcada para o dia 27 e junho de 2025, às 9 horas e será realizada pela câmara técnica dos Comitês PCJ de forma on-line.
Vale lembrar também que a última renovação dessa outorga aconteceu em 31 de maio de 2017 e – de acordo com pesquisa publicada em 2017, pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo –, os especialistas apontam que é preciso discutir amplamente essa questão, trazendo transparência das informações para a população e ponderando-se sobre dados como o volume de água e a qualidade dela. De maneira mais simples, pode-se dizer que a outorga do Sistema Cantareira consiste em um documento legal que dá permissão à Sabesp (sob regras e condições estabelecidas pelo governo) para utilizar água dos reservatórios do sistema a fim de atender o abastecimento da população. Por isso, é preciso conhecer esse documento e se debater sobre ele.
Importante ainda destacar que Piracicaba registrou altas temperaturas em fevereiro e pouca chuva para o período de época de cheia do Rio. Estamos agora em maio – nas estações secas do ano, ou seja, a estiagem que segue até meados de setembro. Estamos todos inseridos nessa emergência climática e, como as previsões cientificas têm acertado sobre o clima, é grande a nossa urgência em fazer algo efetivo para que a questão dos recursos hídricos seja amplamente discutida – e por uma diversidade de atores sociais, para além apenas das câmaras técnicas de gestão.
Por fim, e para se ter uma ideia da urgência de se debater essa questão, cabe dizer que no dia 07 de maio, às 16h40, o site responsável pela telemetria de nosso rio informava que o registro de vazão do Rio Piracicaba estava em 36.000 litros por segundo – enquanto a captação de água feita pelo Sistema Cantareira para abastecimento de São Paulo estava em 31.800 litros por segundo. Pode-se dizer então que estão tirando do Piracicaba, praticamente, a mesma quantidade de água que tem hoje a Bacia do Rio Piracicaba!
Precisamos nos mobilizar – agora – para decidir o futuro tanto do Rio Piracicaba e de suas bacias adjacentes, sob pena de – muito em breve – vermos sucumbir definitivamente o nosso rio.
Vereadora Rai de Almeida.