Adeus ao Prédio Histórico da Pinacoteca
Após praticamente um ano e meio de luta para salvarmos o prédio histórico da Pinacoteca Pública Municipal “Miguel Archanjo Benício D’Assunção Dutra” – situado à Rua Moraes Barros, em local consagrado na memória afetiva, cultural e identitária de nosso povo e de nossa cidade – a Câmara Municipal aprovou, pela maioria de seus vereadores e vereadoras, o Projeto de Lei de número 72/2022, de autoria do Executivo Municipal, que embasa a transferência da Pinacoteca para qualquer outro próprio público de Piracicaba.
Na contramão do que grandes cidades do mundo executam em matéria de conservação e preservação de seus prédios históricos, a Prefeitura Municipal de Piracicaba – por meio de sua inoperante Secretaria de Ação Cultural – volta as costas para mais esse importante próprio público e, na linha do que também acontece na esfera do governo federal de Jair Bolsonaro, impõe mais um desastre à cultura, à história e às artes. Assim, piracicabanos e piracicabanas, digam agora adeus ao prédio histórico (patrimônio tombado!) de nossa Pinacoteca – hoje já convertido em depósito de urnas eletrônicas das eleições.
Infelizmente, o descaso com o prédio histórico de nossa Pinacoteca não é o único mal a se abater sobre a cultura local. Como o cidadão e a cidadã podem notar numa rápida análise acerca da gestão do Prefeito Luciano Almeida, um a um vão sendo desmontados por essa gestão os símbolos de nossa cultura e de nossa história. No ano passado, por exemplo, dissemos adeus ao nosso fantástico Observatório Astronômico Municipal – local ímpar que atendia a alunos e alunas, escolas públicas e privadas e o público em geral que ali deliciava-se com a observação dos astros e podia se desenvolver em tantas áreas do conhecimento ligadas à genial área da astronomia. Na mesma linha do desmonte cultural e do saber, Piracicaba também disse adeus em 2020 ao Espaço do Samba – local fundado em 2016 pela gestão Barjas Negri – e aos programas de movimentação cultural nos bairros.
Com morte anunciada já estavam, há mais de um ano, o prédio histórico da Pinacoteca (do qual agora nos despedimos) e a Biblioteca Pública Municipal “Ricardo Ferraz de Arruda Pinto” – próximo alvo (como já é público e notório) na mira de uma gestão que não demonstra o menor apreço pelo patrimônio cultural e que até o momento transformou a pasta da Cultura num despachante de eventos (estando ainda essa pasta, diga-se, sem um secretário efetivo nomeado após o final da conturbada e desastrosa gestão do então secretário, cuja demissão se deu no mês de julho!). Em troca do prédio histórico da Pinacoteca, a Prefeitura promete instalar uma nova pinacoteca em um galpão do Engenho Central. Fundamentos para tal troca absurda, nenhum. Por parte da base aliada do governo, na Câmara, apenas a acusação de que quem (como esta vereadora) defende o prédio histórico da Pinacoteca é “elitista”.
Ao nosso lado, no entanto, cumpre registrar que em nossa trincheira de luta pela manutenção, conservação e preservação do prédio da Pinacoteca estavam (e ainda estão) artistas, fazedores de cultura, professores, historiadores, programadores e gestores culturais, apreciadores de arte, arte-educadores e cidadãos e cidadãs comuns que – diferentemente do que demonstra a gestão do Prefeito Luciano Almeida – reconhecem o valor da história local e a importância de construções arquitetônicas como a do agora já “antigo” prédio da Pinacoteca. Juntos e juntas, nós (os “elitistas”) abraçamos o prédio da Pinacoteca (literalmente!), registramos em imagens seu desmonte e o descaso com seu acervo (hoje instalado precariamente numa sala de ensaios no Engenho Central, vitimado por goteiras e armazenado de maneira precária, com obras sobrepostas e que permanecem embaladas em papel pardo e plástico bolha).
Triste metáfora de uma gestão que demonstra desconhecer o que é história e o que é patrimônio cultural, segue a “cultura piracicabana” sob a gestão Luciano Almeida (tal como as obras do acervo da Pinacoteca) embrulhada em papel pardo e plástico bolha à mercê de goteiras e ingerências várias, esperando que após a chuva forte e o clima feio que paira sobre a cidade, tempos melhores se abram (em breve) no céu de nossa Piracicaba.
Vereadora Rai de Almeida
